sábado, 28 de março de 2009

AS EMPREITEIRAS SÃO "IMEXÍVEIS"


Praticamente todas (a generalização não é lá muito prudente) as atividades empresariais no Brasil que têm relações comerciais com o governo (seja municipal, estadual ou federal) são uma verdadeira e inesgotável mina de ouro desde que obedeçam, à risca, a Cartilha Nacional das Velhacarias. Entretanto, posso citar uma que alavanca o enriquecimento ilícito ao longo dos anos sendo um dos santuários da impunidade e, portanto, lugar de maior concentração de fies adeptos fervorosos do culto à rapinagem. Refiro-me a mais promissora, e talvez antiga, as empreiteiras interessadas em participar das obras públicas, sejam elas faraônicas ou não, e que sempre encontrarão uma maneira de superfaturar, manipular planilhas adulterando custos e recorrendo a adendos nos contratos (em muitos casos este trabalho de manipulação é até dispensável tal a facilidade encontrada nos contratos), utilizar materiais fora das especificações, inventarem serviços, subempreitar para empresas completamente desqualificadas e tantos outros caminhos claramente oferecidos pela patifaria sem contar, é claro, com a velha e corriqueira corrupção que, gentilmente, os agentes públicos estão sempre suscetíveis estejam em que posição estiver.


Desta feita a Operação Castelo de Areia (fico estupefato com tais denominações e curioso para saber o autor de tais imbecilidades, talvez o deputado federal Edmar reclame direitos autorais) culminou com a prisão de executivos e outros da Construtora Camargo Correia pelo juiz Fausto de Sanctis (o mesmo que mandou prender o sei-lá-o-que Daniel Dantas por duas vezes e o presidente do STF Gilmar Mendes, O Bondoso, mandou soltar). Mas não se alarmem, pois hoje soltam todos eles e até quem não chegou a ser preso durante a operação, eis ai uma prova irrefutável da eficácia do bom e velho Instituto da Impunidade demonstrada. Talvez possa estar vendo chifre de boi na cabeça de jumento, porém, a contratação do ex-ministro da Justiça Márcio Tomaz Bastos para defender a santa construtora e sua breve audiência de dois minutos (segundo ele) com o presidente Lula, O Ignorante, me fez suspeitar que o Palácio do Planalto tenha algum interesse em apaziguar os ânimos, minimizar os fatos, proteger interesses, enfim promover confusão para protelar qualquer desfecho, pelo menos nesta geração ou neste século. A verdade é que onde quer que se mexa fede e quanto mais se mexe maior a fedentina. A doação de empreiteiras a políticos é mais velha que andar para frente, é praxe em qualquer governo, ao menos nos governos desta maltrapilha República. Vamos rememorar a epopéia do ilustre canalha Zuleido Soares de Veras, pimpão proprietário da Construtora Guatama (Operação Navalha), empresa baiana com sede em São Paulo, Desde do governo Collor este cidadão vem aprontando sem que nada lhe aconteça e, durante o governo petista, sua empresa foi classificada como pré-qualificada para participar da construção da Hidroelétrica do Rio Madeira. O que se depreende deste exemplo? Que o Brasil é um vasto canteiro de obras onde são erguidos colossais monumentos de glorificação à pilantragem.


Os crimes de que são acusados são os mais pueris possíveis (lavagem de dinheiro, evasão de divisas, câmbio ilegal, formação de quadrilha, uso de documentos falsos e de “laranjas” e sabe mais Deus o quê). A relação promíscua entre governo e empreiteiras é antiga, forte e certamente será duradoura. Da Estrada de Ferro Mármore à construção de Brasília, a Transamazônica, os Metrôs ou a Ponte Rio - Niterói até o tal do PAC e do recém anunciado plano para a construção de um milhão de casas populares (“Minha Casa, Minha Vida” ou outra besteira parecida, desta “empreitada” escreverei posteriormente) tudo é transformado em via de escoamento fácil para o dinheiro público. Os empreiteiros brasileiros, a exemplo dos banqueiros, são, como diria o ex-ministro do Trabalho Rogério Magri de lamentável lembrança, “imexíveis”.


CELSO BOTELHO

28.03.2009