segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A MORDAÇA ESTÁ VOLTANDO?


Não considero lá muito relevante a participação ou não do senador José Sarney (PMDB-AP) na decisão do desembargador Décio Vieira em censurar o jornal O Estado de São Paulo, O “Estadão”, em publicar matéria relativa as acusações que pesam sobre seu rebento que, inclusive, encontra-se devidamente indiciado. Também ponho em segundo plano o fato do magistrado possuir vínculos com os Sarney, posto que desempenhou a função de consultor jurídico da gráfica do Senado (uma praia exclusiva do senador Sarney) nos anos 90 e, segundo consta, efetivara na ocasião pouco mais de oitenta estagiários sem concurso público e ter sido padrinho de casamento da filha do ex-diretor-geral do Senado Federal Agaciel Maia, notório fabricante de Atos Secretos. Tudo isso é abusivo, sórdido, inaceitável e deve ser investigado e os responsáveis enquadrados de acordo com a legislação. Porém, o grave mesmo foi a decisão de censura. Hoje foi o “Estadão” e amanhã? Que se exiga responsabilidade dos profissionais e dos veículos de comunicação estou de pleno acordo, no entanto, tolher a imprensa é pratica usual dos regimes de exceção. Será que estão conspirando contra o Estado Democrático de Direito? Bom, o presidente Lula, O Ignorante, nos dá provas cabais de seu espírito ditatorial, vingativo, rancoroso e repressor. Para quem não gosta de críticas nada mais conveniente do que uma ditadura. Caso esta prática não seja repudiada pela sociedade em pouco tempo nos jornais estarão publicando na primeira página receitas culinárias como durante o regime militar (1964-1985) e notícias ufanistas da desastrosa administração petista e teremos novamente a sentença do general-presidente-de-plantão Médici (1969-1974): “O Brasil é um mar de tranqüilidade”, talvez no termo mais à gosto do atual presidente: “O Brasil é um espetáculo de crescimento como nunca antes na história” ou outra bobagem semelhante. Sem imprensa livre não há democracia e ponto.


O governo Lula vira e mexe acena com a mordaça para a imprensa. Talvez esteja encantado com o fechamento de 34 emissoras de rádio na Venezuela pelo bobalhão empedernido, megalomaníaco e arremedo de ditador Hugo Chávez, uma vez que o Itamaraty permanece calado e quem cala consente. Cacete! Com uma imprensa livre os politiqueiros deitam e rolam em todo tipo de ilícito, misturam o público com o privado, “se lixam” para a opinião pública ou dizem que ela é “volúvel” ou são classificados como “pessoas incomuns” ou, mais recentemente, “que o Congresso Nacional faz mais coisas boas do que más” como se aquela bodega (porque não passa disso: uma armazém de secos e molhados) existisse para praticar coisas boas e más (depois os críticos da velhacaria do Bolsa-Família são ignorantes e imbecis, ora, ora, ora!). Esse negócio de “segredo de justiça”, “fórum privilegiado” e outras prerrogativas só prestam para favorecer os ricos e poderosos. A decisão do juiz foi lamentável, inaceitável e, sobretudo, perigosa para a democracia que, capenga ou não, ainda não inventaram um sistema melhor. Apeou-se um presidente da República do cargo (devo dizer ao arrepio da lei atropelando-se prazos e ritos negando-se, portanto, o direito de ampla defesa) a partir de denúncias publicadas na imprensa e este mesmo partido que hoje está no poder usou e abusou da imprensa para manipular a opinião pública que, desde 2003, despreza e tenta cassar-lhe o direito a informação.


A decisão macula o regime democrático e afronta a sociedade brasileira. Quem os petistas e congêneres pensam que são? O presidente Lula, O Ignorante, está convicto de que é o alfa e o ômega. Se Fernando Sarney não desejasse que seu nome aparecesse nas páginas policias não deveria fazer lambanças. Outro detalhe importante é que esse cidadão é superintendente do Sistema Mirante e Comunicações da família Sarney o que é um paradoxo. Provavelmente essas empresas não divulgaram que após décadas de mandos e desmandos dos Sarney & Associados o Estado do Maranhão com uma população de 6,3 milhões de habitantes 3,2 milhões (metade) são beneficiários do Bolsa-Família. A taxa de mortalidade infantil neste Estado, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2007, foi a segunda maior do país, de cada mil crianças nascidas 39 não sobreviverão ao primeiro ano de vida, fato que se deve muito a falta de acesso pela metade da população a rede de esgotos e 40% a água tratada. O Estado do Maranhão também tem o maior número de crianças entre 8 e 9 anos de idade analfabetas e também a segunda menor expectativa de vida entre os brasileiros. Certamente que tais dados não fazem parte da pauta jornalística do Sistema Mirante de Comunicações. Então, Fernandão? Vai entrar na Justiça contra o IBGE por infâmia?


CELSO BOTELHO

03.08.2009