quinta-feira, 15 de outubro de 2009

CALADO É UM POETA


Para quem, em 1989, não sabia a diferença de uma fatura para uma duplicata (segundo o ex-presidente Collor) o presidente Lula, O Ignorante, evoluiu de maneira impar, pois, encontra-se no Nordeste “vistoriando” as obras de transposição do Rio São Francisco. O presidente, mais uma vez, reforçou o título que lhe outorguei (O Ignorante) quando afirmou não saber que o governador do Estado de São Paulo José Serra (PSDB-SP) preocupava-se com o Nordeste. Foi uma atitude grosseira, politiqueira, desnecessária. Um homem público com a bagagem de José Serra (deputado federal, senador, ministro do Planejamento e Orçamento, ministro da Saúde, prefeito da Cidade de São Paulo, a terceira maior do planeta, candidato à presidência da República derrotado pelo próprio Lula em 2002) seria escandaloso que não tivesse se preocupado com o Nordeste. E o presidente demonstrou cabalmente sua arrogância ao declarar que “quem sabe eu até convide ele para a inauguração de alguns projetos para ele compreender o que está acontecendo no Nordeste brasileiro”. Ora, excluindo-se todas as divergências que possam ter no terreno político-partidário, José Serra é o governador do principal estado da federação e não pode receber este tratamento aviltante. Não que eu babe de amores por José Serra ou que tenha me constituído no seu advogado de defesa, porém, o presidente foi debochado, desrespeitoso e com vistas a apequená-lo perante o eleitorado. O presidente, do topo de sua popularidade, arrogância e prepotência “está convencido” de tudo pode e que sem ele esta nação descambaria. Errado, presidente. A nação existia antes e existirá depois de sua presidência, portanto, convença-se, o senhor não é nenhum semideus, mesmo porque isso não existe, a não ser em seus delírios. O ataque pessoal é uma das formas sórdidas de se fazer política e Sua Excelência deveria saber disso, pois, em 1989 o candidato Collor fez exibir no seu horário de propaganda gratuita em rede nacional de televisão o depoimento da sua ex-mulher Miriam Cordeiro provocando um estrago monumental em sua campanha.


Não satisfeito com sua deplorável fala achou por bem estendê-la acrescentando à sua coleção de “pérolas” uma afirmação que me deixou, deveras, embasbacado. Disse o filho pródigo de Garanhuns (PE): “quando está no governo, você não pensa, não acredita, você faz ou não faz.” Confesso a vocês que fiquei estupefato. Será que o presidente, de alguma forma, descobriu um modo pelo qual possamos eliminar esta coisa tão mecânica que é o ato de pensar? A maioria certamente crê que só mesmo vindo a falecer que se interrompa tal processo, Administrar um país, qualquer um, sem pensar não poderá ser tido como privilégio e sim como uma leviandade descomunal, uma aberração incomensurável. E, sinceramente, o presidente não acredita nem um pouco no que disse, pois, todos os governos sempre fazem (ou não fazem) as coisas de “caso pensado”. Não existe outro caminho.


Como disse ontem a questão não está agora em dar prosseguimento a polêmica sobre a transposição do Rio São Francisco, o Velho Chico, e sim em encontrar soluções adequadas que possam conciliar a necessidade de se levar água ao semi-árido e a responsabilidade de preservar-se o meio ambiente. E, naturalmente, acompanharmos com o máximo empenho possível a aplicação dos recursos (segundo o governo qualquer coisa em torno de R$ 6 bilhões), pois é fato sabido e conhecido da indecente orgia que se promove com eles, notadamente com obras de demandam aportes de dinheiro substanciais como este. Para finalizar o nosso presidente afirmou não haver falta de dinheiro para as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e, ao mesmo tempo, seu governo alega que a queda na arrecadação provocaria atrasos na restituição do Imposto de Renda. Um imposto que considera salário como renda é mais apropriado que o chamemos de extorsão, apropriação indébita ou rapinagem. Para o PAC tem grana e para restituir uma migalha para o contribuinte devidamente tosquiado não tem mufunfa nos cofres públicos? Ora, vão catar coquinhos! Presidente, devo admitir que o senhor calado é um sublime poeta.


CELSO BOTELHO

15.10.2009