quinta-feira, 18 de junho de 2009

A MAROLINHA QUE VIROU ONDA


Uma quadrilha, bando, gang ou facção especializada neste ou naquele outro ilícito enquanto estiver articulada e seus integrantes comungarem dos mesmos interesses sua unidade está mantida. Caso venha a ocorrer alguma ruptura ai o bicho vai pegar para todos, pelo menos para os mais fracos ou mais otários. Na política não é diferente. As safadezas veem à tona pelo corriqueiro fato de alguém denunciar. Alguém que não fora admitido no grupo malfeitor ou que tenha seus interesses prejudicados por este mesmo grupo. O próprio presidente Lula, O Ignorante, por ocasião do “mensalão” foi supimpa ao definir como se sabia da corrupção (logo ele que não sabe de nada). Segundo ele só haviam três maneiras: participando da corrupção, alguém participando e contando e através das denúncias da imprensa. Posso acrescentar que tem o caso do sujeito não participar, porém ter conhecimento (mesmo jurando de pés junto que não sabia) e se omitir e isso pode acontecer por diversos motivos, alguns confessáveis outros não.


O presidente, mesmo alhures (no pitoresco Cazaquistão) saiu em defesa do ex-adversário e atual aliado senador José Sarney (PMDB-AP) condenando o que chamou de uma “onda de denuncismo”. Levando-se em conta que seja uma onda e não uma “marolinha” a corrupção já come solta na administração petista impunemente, fico aterrorizado só de pensar caso não houvesse denúncias. Bom, se o presidente está tão incomodado com as denúncias devo lembrar que os incomodados estão livres para partir instalando-se em qualquer nação totalitária. Ou será que se esqueceu que o Partido dos Trabalhadores passou décadas denunciando até unha encravada dos seus adversários? O presidente Lula, O Ignorante, disse que o senador não poderia ser tratado como “gente comum” evocando sua extensa biografia. Vamos por partes. O que será que é, na sua concepção, “gente comum”? Um camarada que sofreu (e sofre) preconceitos mesmo tendo alçado o cargo máximo na República jamais poderia dizer tal bobagem. Essa “gente comum” a que se refere é a sua origem, ou já não se lembra disso? Este termo esta eivado de preconceitos. Será que a lei, a denúncia, a exposição pública, a investigação, o indiciamento, o julgamento, a condenação e as prisões só valem para “gente comum”? Que privilégio é esse? Segundo me parece a Constituição Federal não faz esse tipo de distinção. Pouco importa quem seja ou que cargo ocupe desde o momento que infringiu a lei, as regras, a ética e decoro deverá ser enquadrado sem chorumelas. Justificar esse privilégio evocando a biografia do senador foi, simplesmente, estapafúrdio, para se dizer o mínimo. Não se constitui em nenhum segredo que a vida pública do presidente do Senado Federal tenha sido de uma castidade à toda prova. Ou será que dirá que também “não sabia”? Creio não ser necessário recapitular fatos e embates passados bastando, pois, relembrar que seu partido negou-se a participar do Colégio Eleitoral que elegeu o Dr. Tancredo Neves (1910-1985) e José Sarney para presidência e vice-presidência da República. Num momento o presidente atribui a crise internacional aos “ricos de olhos azuis” deixando implícito que somos o oposto, ou seja, pobres de olhos castanhos (ou pretos) noutro momento diz, nas entrelinhas, que esses mesmos pobres de olhos castanhos (ou pretos) estão divididos em castas (“gente comum” e “gente incomum”).


É o que sempre digo: quando o presidente não diz bobagens está a fazer besteiras. O calibre moral dos integrantes do Senado Federal nos permite dizer que ali sim é comum a prática do ilícito e, sendo assim, é lugar de gente comum. O incomum é a sociedade tolerar a sistemática corrupção e a endêmica impunidade que assola o país durante décadas. Presidente, para que não haja “uma onda de denúncias” será necessário não haver um tsunami de bandalheiras.


PS: O traje típico do Cazaquistão caiu-lhe como uma luva, perfeita. Show de bola!


CELSO BOTELHO

18.06.2009