sábado, 18 de julho de 2009

VIDAS PREGRESSAS


Sinto-me no dever de informar, no que for possível diante de minhas limitações, aos meus conterrâneos mais jovens e relembrar aos mais velhos, no caso de já terem esquecido, sobre alguns personagens de hoje nos fatos de ontem com a intenção de adicionar alguns elementos que julgo importantes sobre eles, aguçar-lhes a curiosidade em pesquisar um pouco mais amiúde comprovando a veracidade de minhas palavras e permitindo que elaborem com correção o perfil daqueles que hoje ou arvoram-se como defensores intransigentes perpétuos da pátria e dos interesses da sociedade ou desejam aparentar uma respeitabilidade, lisura e honradez que em momento algum possuíram. Não é necessário muito esforço de minha parte neste sentido, pois, as evidências são muito contundentes da nocividade a nação destes personagens e sua participação nos acontecimentos passados e presentes e, certamente, no futuro não será diferente, a menos que impeçamos. O desprezo da classe politiqueira pela sociedade não tem limites. Julgam-se seres especiais e que tudo podem. Afrontar, roubar, dilapidar, mentir, incorporar o público ao privado e tudo quanto é safadeza.

Em maio passado o deputado Sérgio Moraes (PTB-RS) afirmou textualmente: “eu estou me lixando para a opinião pública! Até porque a opinião pública não acredita no que vocês escrevem. Vocês batem, batem e nós nos reelegemos mesmo assim”. Segundo o site “Transparência Brasil” este cidadão possui uma folha corrida onde constam duas ações penais nºs. 416 e 448 no STF (Supremo Tribunal Federal) que trata de crime de responsabilidade como ex-prefeito e mais os processos nºs. 1.03.0012390-2/2002; 1.04.0004465-6/2004; 1.05.0033280-3/2005; 1.06.0004878-7/2006; 1.07.0006269-2/2007; 1.08.0003563-8/2008 e 70023382849/2008. Alguém com tanta freqüência às barras dos tribunais na condição de réu definitivamente não é recomendável para ocupar qualquer cargo no serviço público e, por extensão, no privado também. Pediu desculpas, solução também sugerida pelo presidente Lula, O Ignorante, ao senador José Sarney (PMDB-AP) para justificar suas lambanças, porém não retirava o que houvera dito. Pois então? Era relator do processo contra o deputado Edmar Moreira (DEM-MG), o tal do castelo que, a propósito, tem duas anotações de inquérito no STF a de nº. 2584/2007 que trata de denúncia do Ministério Público Federal por apropriação indébita previdenciária e o nº. 2797/2009 que versa sobre crime contra a ordem tributária. O Conselho de Ética rejeitou a cassação por nove a quatro e tanto um quanto outro saíram serelepes, satisfeitos e pimpões da vida.

Que o Senado Federal é corporativista não é segredo para o mais tolo dos brasileiros. Mas, vejamos, temos a instalação da CPI da Petrobrás e a Comissão de Ética, dois instrumentos completamente inúteis dadas às circunstâncias. Em ambas vai se armar, uma vez mais, o circo onde os palhaços seremos nós. Concentremos-nos na escolha dos presidentes e relatores e veremos que os “pizzaiolos” estarão exercendo este ofício impecavelmente, só que no lugar errado. Para a CPI da Petrossauro o presidente será o suplente de senador João Pedro (PT-AM), o partido a que pertence já nos dá uma noção de como “a coisa” será conduzida. A relatoria ficou com o senador Romero Juca (PMDB-RR) coincidentemente líder do governo no Senado Federal com duas singelas anotações de inquéritos no STF: a de nº. 2116/2004 que trata de desvio de verbas públicas praticado por prefeito e o de nº. 2663/2007 sobre captação ilícita de votos e corrupção eleitoral. Estamos, pois, diante do “sim” e do “sim, senhor” ou, caso prefiram, “tudo o que seu Mestre mandar, faremos tudo!”. De acordo com o jornal “O Estado de São Paulo” de 17.04.2005 este incansável defensor da administração petista teria repassado propriedades aos seus filhos, mantendo o usufruto dos bens e encolhendo o patrimônio declarado ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Tendo em vista tais informações tenho a imprensão que a única coisa que apurarão com exatidão é o endereço da sede da estatal.

A sacanagem não é menor no utópico Conselho de Ética. Para presidi-lo foi eleito o segundo suplente de senador Paulo Duque (PMDB-RJ). Este senhor deteve oito mandatos de deputado estadual no antigo Estado da Guanabara e atual Estado do Rio de Janeiro e em 1962 integrou a CPI do Rio da Guarda que investigava a matança de mendigos e sua desova no Rio Guandu que culminou com a prisão de três agentes públicos livrando de qualquer responsabilidade o então governador (e inveterado conspirador) Carlos Lacerda (1914-1977). Fez parte também do que ficou conhecido como chaguismo, referência ao governador Chagas Freitas (1914-1991), aliado do regime militar (1964-1985), que montara um sistema que primava por utilizar da máquina pública para vencer eleições que predominou de 1970 a 1982 e ardoroso praticante da “política da bica d’água”, que consistia em distribuir cargos para cabos eleitorais o que, por sinal, ainda se encontra em voga. Portanto, os relacionamentos políticos do senador Paulo Duque são dos menos apreciáveis possíveis e sua atuação como parlamentar nestes últimos milênios completamente sofrível. Mas a corporação senatorial é tão solidária que o senador Artur Virgilio (PSDB-AM) disse que o jurássico político “honrará seu passado de luta contra a ditadura”, ora vejam! Que coisa mais insana. Sugiro que o senador tucano se informe melhor e, só para ilustrar, devo dizer que este parlamentar admitiu que mantinha um funcionário fantasma em seu gabinete onde pode-se concluir que seu conceito de honradez e moralidade pública é um tanto nebuloso. Para o velho e calvo senador sem votos “a opinião pública é volúvel, flutua” e diz enfaticamente não temer a opinião pública, isto posso até entender devido sua avançada idade e o seu ocaso político. Não satisfeito, e com a maior deselegância e arrogância desqualificou o PSOL com entidade político-partidária. Ponha-se na conta do senador também seu perfeito alinhamento com o senador Renan Calhorda Calheiros, José Sarney e demais pulhas. Será este senhor que encaminhará os trabalhos da Comissão de Ética para inocentar ou não o presidente do Senado Federal de todas as trapalhadas de que é acusado.

Diante da pequena pincelada que dei sobre os “nobres” senadores que irão dirigir a CPI da Petrossauro e a Comissão de Ética não há esperança alguma de um mínimo de honestidade possível. Cabe a sociedade, portanto, conscientizar-se e unir-se exigindo veementemente desempenhos exemplares destes dois instrumentos de investigação e os desdobramentos que se façam necessários aplicando-se os dispositivos legais pertinentes em toda sua plenitude quando identificados os responsáveis, sejam “pessoas comuns” ou não. Porque, se depender desta raça, tudo ficará como dantes no quartel de Abrantes. Precisamos e devemos exercer nosso poder de pressão para que os “pizzaiolos” não tenham liberdade de ação, urge que minemos os alicerces do imenso edifico que abriga o asqueroso Instituto da Impunidade e seus membros não menos asquerosos. Ao observar os acontecimentos dos últimos anos e estabelecermos um tênue vínculo com aqueles do passado (a história não é linear e, portanto, há que se levarem em consideração inúmeros aspectos não repetitivos e etc.) concluiremos que por muito menos se derrubou governos inteiros promovendo-se rupturas catastróficas ao país com seqüelas permanentes na sociedade. As transformações somente serão viáveis pelo nosso engajamento político, caso contrário as próximas gerações estão fadadas a herdar o caos e isto não é um patrimônio que se queira legar.

CELSO BOTELHO
18.07.2009