quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O INOPORTUNO FUNDO SOBERANO BRASILEIRO


Já disse algumas vezes e volto a repetir: este Congresso Nacional que ai está se for fechado ninguém irá reparar tal a esculhambação. Não falo da Instituição que deveria funcionar como uma caixa de ressonância da sociedade, mas de seus integrantes corporativistas, fisiologistas, mercenários, demagogos e a lista de maus predicados é imensa. Imagino que nenhuma reforma política poderá colocá-lo nos trilhos. Somente um novo conjunto de normas poderá surtir o efeito positivo desejado. Não se pode reformar o que já é mulambento, inútil, imprestável mesmo. Porém, isso é utopia pelo simples detalhe de que são exatamente esses parlamentares que deverão construir uma nova ordem e, salvo engano meu, ninguém está disposto a criar cobras para em seguida ser picado. Portanto, fica a sociedade mais uma vez convocada a exigir as mudanças que deseja.


Em meados deste ano quando o dólar era farto as cabecinhas pensantes do governo petista decidiram que chegara a hora do Brasil constituir um Fundo Soberano tal qual ocorre em países desenvolvidos. Seria um “cofrinho,” no dizer das genialidades políticas e econômicas que florescem e fenecem neste solo mãe gentil. O “porquinho” receberia, de início, R$ 14 bilhões. Fundo Soberano, para encurtar o papo, justifica-se quando uma nação detém uma estupenda riqueza não-renovável e possui um não menos estupendo superávit o que, diga-se de passagem, não é o caso brasileiro. É, por exemplo, o caso da Arábia Saudita cujo Fundo Soberano encheu centenas de milhares de “porquinhos” com seus US$ 800 bilhões. Nem mesmo as nações que possuem estes fundos saíram incólumes da crise. O Fundo Soberano, também conhecido como SWFs (Sovereing Wealth Funds) de Cingapura comprou US$ 4,4 bilhões em ativos do Merril Lynch que foi atingido pela bagunça internacional. O mesmo mecanismo em Abu Dadi comprou US$ 7,5 bilhões em ações do Citibank que, pelo que consta, não se manteve imune ao desastre planetário. Fico imaginando a lambança que farão com a versão tupiniquim. O Fundo tem por objetivo financiar empresas brasileiras no exterior (já é boa notícia manterem-se operacionais aqui), criar linha de financiamento para as exportações (outra notícia alvissareira será encontrar clientes, preferencialmente bons) e financiamento de empresas nacionais na realização de obras no exterior (caso existam países dispostos em queimar dinheiro durante uma crise dessas). Porém, quis o destino que a crise econômica que teve origem no subprime nos EUA ganhasse o mundo promovendo uma baderna que não se via há oitenta anos. Ai acabou a fartura de verdinhas e o tal Fundo Soberano Brasileiro que já era um delírio psicodélico passou a ser um delírio alucinógeno. Mesmo assim a graciosa Câmara dos Deputados o aprovou por 291 votos favoráveis, 78 contrários e 4 covardias, isto é, abstenções (isso reforça que naquele parlamento passa boi, passa boiada). Deverá ir para o Senado Federal onde o governo não tem a maioria, no entanto, tem recursos pedagógicos para educá-la com a velha cartilha do “É Dando Que Se Recebe.”


Segundo o deputado Henrique Fontana (PT-SP), sancionada a mumunha, até o mês de janeiro do próximo ano R$ 6 bilhões irão ter aos cofres do bondoso BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para criar uma linha de financiamento para as exportações. Bonito. Realmente bonito, mas ordinário. E, de acordo com o governo, a previsão é de que 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) vá para o Fundo. O Banco Central, O Carimbador Maluco, já contabilizou uma venda de dólares à vista de US$ 4,6 bilhões e somente com os swaps tradicionais o Banco Central torrou a bagatela de US$ 20,1 bilhões. Então pergunto: como engordar o “porquinho” se está faltando farelo? O relator do projeto, deputado Pedro Eugênio (PT-PE) afirma que o fundo é anticíclico. Mas, segundo seu chefe o presidente Lula, O Ignorante, a crise não passa de marolinha e, portanto, fica implícita a nulidade do argumento anticíclico do relator. Os investidores externos foram passear no mato enquanto seu lobo não vem enquanto os internos, a cada dia, assistem as fontes de financiamentos secarem anunciando um deserto desolador. A aprovação deste fundo no momento atual é completamente destituída de sentido. Mais um monstrengo criado na Era Lula cujos guardiões serão, nada mais nada menos, que o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central. Fico a desconfiar que há muito mais que aviões de carreira no ar.


CELSO BOTELHO

30.10.2008