sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A GALINHA DOS OVOS DE OURO


Suspeito, há muitas décadas, que deve haver um cargo secreto no Palácio do Planalto ocupado por algum burocrata calhorda cuja única função é cochichar no ouvido do presidente da República, seja ele quem for ou o que for tão logo tome posse:


- Presidente cuidado com a previdência. Cuidado com os reajustes do salário-mínimo. Olho vivo nos aposentados e pensionistas. A Previdência está deficitária e poderá quebrar.


E o tal burocrata idiota azucrina a vida do presidente durante todo o mandato assombrando-o dia após dia, incansavelmente. Fornecem dados, estatísticas, relatórios, pareceres e o cacete a quatro distorcidos, fictícios, enganosos a fim de corroborar com suas tenebrosas exortações. Há que se concordar que jamais vi sequer um único presidente disposto a corrigir as distorções no salário mínimo ou nos proventos dos aposentados e pensionistas. Essa disposição só existe durante as campanhas eleitorais. Uma vez no poder empenham-se ao máximo em pulverizar cada vez mais os salários. Isso, meus caros, é um dos modos de repressão no sistema democrático.


Com o presidente Lula, O Ignorante, a coisa não é diferente. Lembro-me muito bem do seu discurso sobre o salário mínimo e os benefícios pagos pela Previdência Social: iria remover o universo, os céus, as terras, as montanhas, as geleiras, os oceanos, os mares, lagoas e até mesmo os riachos e córregos caso fosse preciso para resgatar a dignidade dos trabalhadores, aposentados e pensionistas deste Brasil varonil. Estava mentindo. Ou se não estava uma vez no poder passou a repudiar a idéia. Aliás, não vejo semelhança alguma entre o Lula sindicalista e candidato do Lula presidente. O primeiro mostrava-se sensível as demandas mais do que justas da sociedade. O segundo é presunçoso, arrogante e prepotente. Plenamente convertido e pervertido pelas elites.


A ladainha de que a Previdência vai quebrar é dos tempos dos dinossauros. Pelo que os alarmistas apregoaram ao longo de décadas ela já teria falido inúmeras vezes e isso nunca chegou nem perto de acontecer. A Previdência Social não tem como única fonte de receita as contribuições. É a maior imobiliária que existe no país. A quantidade de imóveis de todos os tipos que vão ter às suas mãos é uma grandeza e inúmeros deles estão ociosos, gentilmente cedidos a outrem, arrendados, alugados por preços de banana e ocupados indevidamente. Outra fonte de receita é a parte dos prêmios das loterias que lhe é destinada, entre outras. Portanto, essa conversa de déficit previdenciário não convence o mais imbecil dos mortais. A previdência é tão deficitária que seus recursos são sistematicamente desviados para outros fins completamente estranhos. Outro fato que é sabido e conhecido de todos é a propositada má gestão da seguridade social. Ora por incompetência, ora por negligência, omissão e sintomaticamente por conivência com a corrupção. Caso o governo se dispusesse ir atrás também das grandes empresas que se apropriam despudoradamente do percentual descontado em suas polpudas folhas de pagamento com certeza aportaria nos cofres da Previdência uma soma substancial. Mas tudo indica que os pilantras não serão importunados. A preferência governamental é reprimir a sociedade seja lá com que diabo de instrumento for.


O senador Paulo Paim (PT-RS) desde 2003 vem trabalhando em seus três projetos que agora foram aprovados em caráter terminativo e ainda há senadores se queixando da exigüidade de tempo para discutir a matéria. Cinco anos de tramitação é, segundo suas excelências, pura e simples precipitação. Ora, vão plantar batatas e colher beterrabas! De qualquer jeito o Senado Federal fez o dever de casa e ainda colocou-se à disposição do dito ministro da Previdência Social para abrir um canal de negociação com o governo. No entanto, o aloprado não levou à reunião coisa alguma e, ao sair, desqualificou os senadores perante a imprensa afrontando o Senado da República. Que esta Instituição está mais por baixo que barriga de cobra todos sabem, mas a atitude do representante do governo foi, para se dizer o mínimo, arrogante. Feridos em seus brios os senadores decidiram fazer uma vigília cívica. Coisa que jamais assisti. Pode ser uma coisa até bonita, porém, e eles sabem disso, não irá sensibilizar a Câmara dos Deputados e muito menos o presidente da República que já avisou que vai vetar a saliência se a Câmara também aprová-la o que, aliás, é muito pouco provável, pois, como tenho dito naquela Casa dependendo do presidente Lula, O Ignorante, passa boi, passa boiada. Neste caso o presidente ficará aliviado porque o desgaste político de um veto destes certamente poria a perder o fiapo de esperança de tentar fazer seu sucessor. Notadamente com a sua “A Preferida” Dilma Roussef que, por sinal, não encanta e nem entusiasma ninguém, reúne todas as condições para tornar-se um fiasco eleitoral. Os deputados que votarem contra os aposentados e pensionistas poderão contar com a memória fraca dos eleitores e outros expedientes que conhecemos para reelegerem-se e atentarem durante mais quatro anos. E assim é debaixo deste céu anil: uns dizem que querem, outros querem e não dizem e a maioria não quer sem jamais o dizerem.


Os pólos mais vulneráveis da sociedade são as crianças e os idosos. Ambos estão indefesos diante do ataque dessas alcatéias famintas que se sucedem no governo. No Brasil encontram-se desamparados por um Estado covarde que esteve sempre apequenado diante dos interesses econômicos que ditam a cartilha a que deve seguir. Isentar instituições filantrópicas, mesmo sendo contumazes nas irregularidades (se houver dez por cento delas decentes certamente estarei sendo otimista) é matéria de relevância e urgência na opinião dos aloprados do governo petista. O presidente do Senado Federal Garibaldi Alves (PMDB) a devolveu para o Palácio do Planalto num arroubo de independência e indignação (esta é a segunda vez que o fato acontece. A primeira foi em 1989 no governo Sarney, 1985-1990). Aprovar créditos suplementares bilionários para ministérios e estatais que sequer detalham a necessidade deles sempre há de se dar um jeito de arranjar dinheiro. Nomear trocentos aloprados para acomodar a galera petista & simpatizantes não faltam recursos. Franquear o cartão corporativo até para se comprar rapadura na feira é atitude perfeitamente administrativa. Manter quase quarenta ministérios é natural. Doar dinheiro público para as ONGs (Organizações Não Governamentais) talvez seja, para este governo, também distribuir renda. Extorquir o contribuinte com uma política tributária desumana, cruel e violenta me leva a pensar que é consenso no PT (Partido dos Trabalhadores). E o mais importante acumpliciar-se com os banqueiros para assaltar a sociedade sem dó nem qualquer piedade deve ser essencial para administração pública federal. E tem mais coisas. Ora, não me venham falar que a previdência vai quebrar por fazer justiça restituindo parte do que foi tirado dos aposentados e pensionistas. O projeto do senador visa apenas do ano de 1999 até hoje e não desde que foi criado o sistema previdenciário, pois, se assim o fosse, concordaria que haveria de fato uma quebra. A Previdência Social no Brasil é uma galinha dos ovos de ouro para qualquer governo. Uma máquina de fazer dinheiro para bancar suas estripulias.


CELSO BOTELHO

21.11.2008