terça-feira, 4 de novembro de 2008

A IMPRENSA NÃO É O BANDIDO NEM O MOCINHO.


Mesmo que as oportunidades não apareceram o presidente Lula, O Ignorante, sempre vai achar um espaço para dizer alguma bobagem. A imprensa, costumeiramente, é atacada e até ameaçada com seus (e de seus associados) arroubos de autoritarismo em desejar amordaçá-la. Chego a imaginar que o presidente sonhe em transformar todos os veículos de comunicação numa imensa “A Voz do Brasil” para cantar em prosa e verso as maravilhas de sua administração ou – quem sabe? – num “Pravda” tupiniquim. Os petistas usaram e abusaram da imprensa durante longos anos informando-a, sugerindo e manobrando-a utilizando os mais diferentes expedientes de acordo com os seus interesses. Eram pedras e pouco se importavam quais as vidraças que quebrariam. Porém, a partir de 2003, as posições foram invertidas e não estão nem um pouco confortáveis com isso. Não me lembro, na História Republicana brasileira, de um único presidente que tenha sido obrigado a ocupar o cargo. Como diria o saudoso Vicente Mateus, ex-presidente do Coranthians (em cuja torcida inclui-se o presidente) “quem está na chuva é para se queimar.” Portanto, o governante é eleito para governar e de preferência bem.


Leio os jornais e não vejo só más notícias. A respeito da crise financeira internacional e das medidas que o governo está tomando tenho lido artigos e comentários de economistas, cientistas políticos e outros especialistas de que o caminho está correto (mesmo considerando-se as divergências). A manutenção das taxas de juros no mesmo patamar na última reunião do Copom (Conselho de Política Monetária) foi elogiada (mesmo porque não faria sentido algum em reduzir ou elevar). Podem ser detectados acertos e erros, no entanto, os primeiros estão em vantagem. Bingo. Ao que me parece matérias assim não depõe contra o governo do Sr. Luiz Inácio que está choramingando à toa. É preciso que se diga, até exaustivamente, sobre as lambanças governamentais mesmo que isso o contrarie. Mesmo porque o Partido dos Trabalhadores ou qualquer outro não são, nem em tese nem na prática, senhores absolutos deste país e seus integrantes não se acham acima do bem e mal, apesar dos incontáveis egocêntricos.


O presidente reclamou que em 2004 ao inaugurar uma turbina em Tucuruí, no Estado do Pará, jogou um papel do bombom que havia comido no chão e isso foi notícia. Queixa-se de preconceito. Ora, vejam! O que esperava? Caso tivesse sido eu o autor da “sujismundíce” ninguém daria importância e, certamente, jamais me pegariam na infração, pois, neste caso, enfiaria o papel num dos bolsos do meu terno para descartá-lo em lugar apropriado. O presidente não pode se dar ao luxo de falar ou fazer qualquer bobagem sem que seja noticiado e, posso admitir, muitas vezes até de maneira exacerbada. Não creio que a imprensa deva omitir-se em divulgar para a sociedade os mensalões da vida; os sanguessugas; os Daniel Dantas; a liberdade com que se grampeia neste país; o trabalho escravo infantil; a insegurança presente em todos os estados desta suposta federação; a desenvoltura do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) em agir de maneira subversiva e terrorista. Ou depredar as instalações no Congresso Nacional não é subversão? Destruir laboratórios inutilizando mais de vinte anos de pesquisas e interromper tráfego ferroviário não é terrorismo? O aumento do desmatamento; a lama na qual mergulhou o Senado Federal com as indiscrições, laranjadas e bois piratas do senador Renan Calheiros (PMDB-AL); a orgia de verbas de publicidade na SECOM (Secretaria de Comunicação) com e sem o Luis Guisken; a transação comercial entre a Telemar e a Gamecorp de propriedade do Lulinha; a violação de sigilo bancário pelo ministro da Fazenda Antonio Palocci de Francenildo, o caseiro que testemunhava as surubas sexuais, políticas ou financeiras; a farra do boi (e de outros animais) nos gastos públicos e a lista é comprida. O Lula operário não devia, mas se quisesse poderia até cuspir na calçada da 25 de Março. Porém, o Lula presidente a coisa muda de figura. Deve entender que sua estada é transitória (mesmo que consigam golpear a democracia e estabelecer um terceiro mandato) e o que deve prevalecer é a Instituição Presidência da República e qualquer um que a ocupe deve zelar pela liturgia do cargo, como gostava de dizer o ex-presidente Sarney (1985-1990). Ser exposto numa pegadinha da televisão espanhola pagando um mico internacional não condiz com o cargo. Pelas imagens percebo que o presidente, arrebentando de vaidade, pretendeu exibir sua popularidade em além-mar e deu com os burros n’água. Mas, para ele, a imprensa deveria ignorar. Como, aliás, deveria ignorar os terremotos, tsumanis, furacões, enchentes, estiagens, as geleiras derretendo, aviões que caem, os conflitos no Oriente Médio, a miséria na África, etc. etc. Ora, presidente, seria tão bom se o boi fosse feito só de filé mingnon, porém, o Criador o concebeu com ossos, cascos e chifres. Este episódio me faz lembrar o ex-presidente general Médici (1969-1974) que declarou ser o Brasil uma “ilha de tranqüilidade” num mundo tão conturbado e ai da pele de quem discordasse! Apesar da mortalidade infantil no Estado de São Paulo, o mais rico, ter avançado 10%; mais de 30% dos municípios não possuíam abastecimento de água; mais de 70 milhões de brasileiros eram desnutridos ou subnutridos, e isso era mais da metade da população; a tortura – esporte favorito do regime militar – era largamente praticada; os escândalos financeiros aconteciam e o país era o 9º Produto Nacional Bruto, mas só esta última notícia agradava aos inventores do “milagre brasileiro”. A imprensa estava amordaçada, assim como desejam alguns ainda hoje.


De fato. Um pedacinho de papel no chão não deveria ser o fim do mundo diante de uma administração infestada de corruptos e corruptores alguns amadores e muitos inveterados, porém todos nocivos. A imprensa não é o bandido ou o mocinho. A imprensa é o xerife.


CELSO BOTELHO

04.11.2008