terça-feira, 2 de setembro de 2008

E AGORA LUIZ INÁCIO?


Identificar os responsáveis pelas escutas telefônicas ilegais nos três poderes da República é obrigação do governo. Punir é com a justiça. Entretanto, isso não é o bastante. Caso não se repense todo aparato de inteligência que, sem dúvida alguma, está fora do controle do Estado e, eis o mais grave, a serviço de integrantes do governo por este ou aquele interesse. Violam sistematicamente as leis estuprando a nação. Cabeças têm e precisam rolar neste governo sempre às voltas com escândalos das mais diversas naturezas e sempre envolvendo autoridades. Estão pedindo a do ministro da Justiça Tarso, O Genro, do ministro das Relações Institucionais general Félix, do diretor-geral da ABIN Paulo Lacerda o que, por sinal, considero pouco dada o tamanho do imbróglio.

O presidente Lula, O Ignorante, afirma que tomará decisões severas. Não posso crer. O ex-ministro Silas Roudan está indiciado e exerce a função de conselheiro na Petrobrás e na Itaipu Binacional com proventos consideráveis. De que severidade o presidente está falando? A ABIN está subordinada ao Gabinete de Relações Institucionais e este à presidência da República então como se explica ninguém saber de coisa alguma? Ora, assim como o presidente, todos ignoram tudo, todo dia e toda hora. Cabe dizer que vivemos um governo de inveterados ignorantes. O fato é que o Estado Democrático de Direito foi maculado deliberadamente por seu órgão de inteligência e tanto neste governo como no anterior por incontáveis vezes. Durante a ditadura o aparato de informações era peça fundamental para a manutenção do Estado de Exceção patrocinado pelas Forças Armadas. Que medidas severas o presidente tomará? As mesmas que tomou com o “cumpanheiro” José Dirceu? Com o Palocci? Com a Matilde? Não é nada animador o histórico de severidades presidenciais.

Estou, deveras, impressionado com o espírito aguçado de detetive do general Félix. Um verdadeiro Sherloque Holmes tupiniquim. Apontou para três suspeitos: agentes da ABIN, o sistema instalado no Senado e o não-sei-o-quê Daniel Dantas. E, ministro, se nos aprofundarmos mais nas investigações poderemos apontar também os traficantes que dominam o Rio de Janeiro, a capenga oposição brasileira e o Cacciola. Das três opções do ministro a aberração está em sugerir o quadrilheiro Daniel Dantas simplesmente pelo fato de que para dispor de informações privilegiadas não necessitava recorrer às escutas. As obtinha de viva voz. Qual será a intenção? Arrisco dizer que é passar-nos um belo atestado de asnos.

Posso concluir que avisado da possibilidade de grampos no gabinete presidencial a situação é bem pior. Será o espião sendo espionado? O governo fuçando o governo? A tecnologia será que não está capacitada para impedir ou identificar de pronto uma violação desta monta? E tenho muito mais perguntas que, certamente, não serão respondidas ou não de maneira satisfatória. No ínicio da década de setenta o presidente americano republicano Richard Nixon, alvo de um impeachment, tornou-se o único e renunciar ao cargo em mais de dois séculos de História por cometer os crimes de perjúrio e obstrução à justiça e tudo começou com escutas plantadas na sede do Partido Democrata em Watergate. O funcionário público, principalmente sendo o presidente da República, que toma ciência de alguma irregularidade e não toma as providências cabíveis está caracterizado o crime de responsabilidade e, conseqüentemente, o pedido de impeachment. Fizeram isso em 1992 atropelando todos os ritos e prazos processuais de maneira mais politiqueira possível e a nação não parou. Durante o episódio do mensalão o presidente bateu pé afirmando que de nada sabia, apesar das declarações do ex-deputado Roberto Jefferson, ocasião na qual lhe outorguei o título de O Ignorante. Repetirá a manobra? Provavelmente que sim. E agora Luiz Inácio?


CELSO BOTELHO

02.09.2008