terça-feira, 16 de setembro de 2008

PRISÃO RETARDATÁRIA


Pelas barbas do Profeta! A abundância de escândalos neste governo supera todas as expectativas. É safadeza para todos os lados. Polícia prendendo polícia é o fim da picada em qualquer parte do planeta, pois, afinal, tem como função proteger a sociedade. Mas, no Brasil, o fato merece destaque tendo em vista que a sociedade não tem confiança alguma na instituição. Como em outras categorias há um forte sentimento corporativista que, havendo algum linguarudo, sua vida se transforma num verdadeiro inferno ou coisa pior, caso exista. Desta feita o furdúncio fica por conta da Operação Toque de Midas (gostaria de saber quem batiza essas operações para enviar sugestões menos grotescas) que investiga empresas do bilardário Eike Batista sob suspeita de burlarem a lei de licitações envolvendo ferrovias lá no Estado do Amapá como se essa lei fosse imaculada, incorruptível e a prova de fraudes. Ela é sistematicamente descumprida a todo instante por esse país a fora. Mas voltando à questão da prisão temporária, determinada pelo Ministério Público do Amapá, do número dois da Polícia Federal Romero Menezes suspeito de favorecer o irmão (irmão dele, não meu) e funcionários da EBX que, por acaso, pertence à Eike Batista. A prisão, segundo o diretor da Polícia Federal, é para preservar a busca de provas. Ora vejam, a tal Operação Toque de Midas foi deflagrada em julho, estamos em setembro, será que em cinco dias os investigadores coletarão provas que não foram possíveis em, aproximadamente, dois meses? Isto sem contar o tempo de investigação. Esse largo espaço de tempo não terá sido suficiente para destruírem-se provas e ajeitar as coisas? Entendam, não estou defendendo ou condenando ninguém só que acho que é mais um esparramo com o objetivo de tirar do foco outras questões pendentes envolvendo a Polícia Federal como, por exemplo, sua participação na gigantesca Grampobrás. É cortina de fumaça.

Quanto à maracutaias praticadas por empresas naquele Estado, venhamos e convenhamos, não é coisa de ontem, antes-de-ontem ou trans-antes-de-ontem. Estou apostando que teve alguém pilhado na divisão do botim (é sempre assim, lembram-se do ex-deputado Roberto Jefferson-PTB/RJ?). E a graça fica por conta do Diretor do Departamento de Combate ao Crime Organizado - o crime só é organizado porque a polícia é desorganizada - Roberto Trocon Filho que, por sinal, assume o posto de Romero Menezes, falou da transparência, da obediência às regras do jogo (não sabia que o Código Penal era um jogo) e blá-blá-blá. Encerrou a prosa afirmando que, sendo necessário, tanto o mais alto funcionário público quanto o mais humilde seria levado às barras da lei. Deveria ter contrato umas carpideiras para chorarem de comoção porque, espontaneamente, não fariam. O único alto funcionário público punido neste país chama-se Fernando Afonso Collor de Melo que teve seu direito de ampla defesa cerceado num flagrante atropelo às leis e todos os ritos processuais num julgamento político mesquinho onde rancores sobrepujaram à razão. Agora, funcionário público humilde tem uma porrada para servir de exemplo que, deveras, não serve de exemplo droga nenhuma.

Portanto, não é surpresa alguma funcionários públicos estarem envolvidos nas mais ardilosas tramóias poderia desfiar uma imensa lista deles. A novidade fica por conta da justificativa para a prisão temporária. Bem, como em nosso país a Justiça concede hábeas corpus para um Cacciola da vida que aproveitou e fugiu; dois destes para um Daniel Dantas da vida, que só não fugiu porque não deu tempo e vários deles autorizando implicados em escândalos a mentirem para CPIs diante de toda a sociedade e mantém presa, por três ou quatro meses, uma mulher que furtara um pote de margarina num supermercado... Sinceramente pode-se esperar qualquer coisa. Inclusive nada.


CELSO BOTELHO

16.09.2008