sexta-feira, 8 de agosto de 2008

UMA VENDETTA INÚTL


“Vão-se os meus, mas também se vão os teus.” A frase não é de minha lavra, porém, as Forças Armadas estão aplicando-a nesta refrega inútil patrocinada pelo ministro de Justiça Tarso Genro (genro de quem?) e pelo secretário de Direitos Humanos Paulo Vanucchi em considerar crimes políticos as atrocidades cometidas pelo nefasto regime militar que aqui foi instalado em 1964. Acho, entre outras coisas, que a discusão é tardia, inoportuna, uma retaliação retardada e que poderá promover rupturas sociais as quais não precisamos e nem queremos. Jamais se apagarão as manchas negras deixadas pelas ditaduras. Quem pode suprimir de nossa História o caso de Olga Bernardes ou do estudante André Edson Luiz no Calabouço, isso para citar dois fatos. A Anistia de 1979 foi um acordo tácito entre situação e oposição e o revanchismo de parte a parte dele não constava. Reitero uma vez mais (e assim farei quantas vezes se façam necessárias) ser um ácido opositor de toda e qualquer ditadura civil ou militar. Mas não me parece conveniente, mais de vinte anos depois, roer a corda por quaisquer motivos. O general da reserva Sérgio Augusto Coutinho deu conhecimento da ficha política de Tarso Genro e Paulo Vanucchi. O primeiro engrossou a ala dos vermelhos do PCB e o segundo participou da ALN (Ação Libertadora Nacional) onde posso concluir que, como tantos outros, abraçaram a luta armada para combater o regime o que, por sinal, não os eximem da suspeita de terem cooperado e terem pleno conhecimento de ações de tortura, seqüestro, assaltos, depredações, etc. etc. etc. Então o pau que dá em Chico dá em Francisco. Ninguém pode negar que ambos os lados se exarcebaram. Se a balança pender mais para as Forças Armadas é natural do ponto de vida que controlavam o país. As ações que degradam e arrebatam a vida são inaceitáveis. Não defendo o atropelo dos direitos humanos por quem quer que seja, no entanto, não consigo vislumbrar o propósito da empreitada.

O militar Carlos Alberto Brilhante Ustra e Audi Santos Maciel são alvos dos procuradores do Ministério Público Federal como responsáveis pelo desaparecimento, tortura e morte de 64 pessoas. Ustra, por exemplo, foi reconhecido na Embaixada do Uruguai, ainda no governo Sarney, pela então deputada federal Bete Mendes e não foi acusado. E os dois coronéis Ari? Porque o nobre ministro e secretário mantiveram-se em silêncio esse tempo todo? Hum... onde há fumaça por certo existe fogo. Essa pressão para que a AGU reconheça a tortura durante a ditadura para mim não está bem explicada. Vamos imaginar que assim seja feito. Tudo muito bem. E os excessos praticados pelos opositores do regime? Muitos deles na vida pública e ocupando cargos de relevância.

A anistia foi concebida e negociada, na época, para ser exatamente o que quer dizer: perdão geral com o objetivo de efetivar-se uma transição política pacífica. Certa ou errada cabe aos seus idealizadores e signatários a responsabilidade. Todos, naquele momento, viram atendidos seus interesses. Pouquíssimas e frágeis foram as exceções. É uma vingança inútil.


CELSO BOTELHO
08.08.2008